Houve um tempo em minha vida em que toda arte que eu era capaz de enxergar era aquela relacionada à fé cristã. PenDrive do carro só tinha música sacra, na Biblioteca apenas livros teologicamente cristãos, no histórico do navegador apenas sites que estimulavam conhecimentos a respeito dessa única vertente religiosa.
Depois de um tempo, na medida em que minha consciência se expandia e criava novos horizontes de percepção, ao invés abandonar a experiência espiritual que havia tido acabei aprendendo a conhecer de Deus olhando para o todo da existência pois de fato passei a crer que toda a terra está cheia da Glória de Deus.
Aprendi a encontrar a beleza dos atributos invisíveis de Deus em Chopin, Bach, Pixinguinha, Martinho da Vila, Vanessa da Mata e Marisa Monte. Passei a enxergar o amor de Deus nas percepções dos poetas, dos artistas plásticos, dos atores, das dançarinas e dos esportistas.
Encontrei expressões de espiritualidade em Adélia Prado, Rubem Alves, Ricardo Boechat, Valter Casagrande e Marina Silva. É como se um boom seguido de um zoom me ajudasse a perceber que a vida tem sentidos maiores do que aqueles encontrados em minha infantil reflexão no principio das coisas.
A ciência deixou de ser inimiga e passou a ser parceira na caminhada dos aprendizados. A Bíblia passou a ser o testemunho de Jesus e não mais um talismã idolátrico usado no meu fetichismo caprichoso. Os movimentos da vida ganharam cores e significados eternos, sem aquela dicotomia do sagrado e profano. O amor passou a ser único dogma, o amor ao outro, o amor à vida, o amor à relação de Deus com os homens, ainda que permeada de mistérios e peculiaridades.
Hoje faço parte dessa corja que é santa (visto que é consciente de sua realidade interior necessitada do sustento da graça divina), que levanta e anda pra ler, escrever, cantar, recitar, elaborar, auxiliar, se viabilizar em utilidade ao outro para seu crescimento e abundância de vida. E dou graças a Deus por ter encontrado um grupo de pessoas que ainda acredita na arte e com ela se comunica e assim lê o mundo!
Rodrigo Campos
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