A Adoração e os Artistas Gospel

É claro que, ao fazer uma análise como essa (me refiro às reflexões que estão no Cap. 2 – O que é adoração – “Minha Fé se Discute”), ainda que a princípio só tenha como objetivo colocar a adoração no lugar de onde ela jamais deveria ter saído, acaba inevitavelmente relativizando isso que é uma grande fonte de lucro para os ministérios de música de nosso tempo, que gravam CDs, produzem DVDs, se apresentam em inúmeros shows e eventos, ganhando assim bastante dinheiro com seus “louvores” e atos de “adoração” a “Deus” (tudo entre aspas).

Isso quer dizer que eu não acredite que hajam músicas boas no meio cristão que devam ser valorizadas e cantadas comunitariamente? De forma alguma. Eu mesmo canto e recomendo muitas canções de artistas cristãos. Daí você me pergunta: Será que não há adoração genuína na vida de muitos desses cantores e compositores da música cristã ou daqueles que financiam seus trabalhos? Tenho certeza que sim! Mas, é fato incontestável que o peso que o significado atual da adoração oferece às músicas cantadas nas reuniões, dá todo o subsídio e condições para que pessoas (ainda que inconscientemente), façam da música cristã um produto comercial especificamente para atingir os interesses do mercado áudio visual, que a transformou em algo extremamente lucrativo.

O pior é o discurso! Pois, sempre que alguém vai lançar um novo CD, não se diz: “Sou um artista de fé cristã que, como todo trabalhador, compõe e registra suas composições como meio de se sustentar e expressar a sua fé” (o que seria mais honesto), mas sim que: “Deus me deu uma canção e vocês precisam ouvi-la, pois é profética e voz de Deus para essa geração” (com algumas variações aqui e ali, mas o sentido é o mesmo), fazendo de Deus o principal marketing do seu ganha pão.

Essas pessoas não se apresentam nas comunidades cristãs como pessoas comuns, iguais a todos os demais irmãos, como sendo uma parte do mesmo Corpo, nem são tratados assim; pelo contrário, chegam com toda pompa, com ares de celebridades celestiais, travestidas de uma autoridade quase que exclusiva dos mais íntimos de Deus, e como oráculos do divino que “atraem a presença de Deus” por onde passam através de suas canções e ministrações. E elas gostam disso, pois isso lhes é muito conveniente, e agem exatamente conforme esse papel, ainda mais pelo fato de que há muitas pessoas dispostas a pagarem muito dinheiro pelos seus “serviços divinos” e estimularem que esse ciclo de comércio da fé nunca se finde.

Essa é a idolatria sem gesso, sem barro e sem pedra, que é tão detestável quanto aquela que praticavam os povos vizinhos de Israel e que fizeram o próprio Deus dizer a eles: “Não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o Senhor teu Deus”.

É com dor no coração que constato que a dimensão da não comercialização da fé está muito longe de ser estabelecida em nossa geração. Dar de graça o que recebemos de graça é um mandamento infinitamente ignorado e substituído por todos os versículos cuja interpretação está relacionada à prosperidade financeira e de vitória sobre os inimigos.

Existe toda uma máquina religiosa, cheia de engrenagens, sendo sustentada a partir da comercialização da fé, e quando se questiona isso, dizem que sem isso não é possível levar o evangelho adiante, afirmam também que sempre foi assim e é impossível mudar as coisas. E fico pensando: O que fizemos com o Jesus que cuidou dos humanos sem lhes cobrar coisa alguma, e que ensinou-nos a imitá-lo, vivendo como servos? Mas, parece que não temos confiança Nele o suficiente para realizar tal desafio. Seu ensino perde força, em nosso meio, diante da nossa falta de fé.

Em nome de Deus se ganha muito dinheiro em nossa terra. E nem se questiona isso, especialmente por causa da teologia da prosperidade, que garante, em nome de Deus, que quem se rendeu ao Eterno necessariamente se tornará um abastado em todos os sentidos, ignorando fortemente o evangelho de Jesus que, inclusive, afirma que “dificilmente um rico herdará o Reino dos céus” (desestimulando assim os cristãos a acumularem para si tesouro que a traça corrói). Mas, esse discurso, se adotado, seria muito impopular e geraria muito pouco recurso para as comunidades, por isso é tido como absolutamente dispensável (por causa dos interesses escusos). Jesus jamais se encaixaria na teologia da prosperidade, mas, infelizmente muitos de nossos cantores cristãos e muitos dos líderes religiosos de nosso tempo sim.

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Rodrigo Campos
Um Caminhante Aprendiz

 

 

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