Numa sociedade marcada por abusos, relacionamentos tóxicos, ações e personalidades narcisistas, sem falar nas decepções amorosas nos mais diversos níveis, refletir sobre o amor se tornou, antes de tudo, obrigatoriamente, pensar no amor próprio. É natural que seja assim! A autodefesa é o mecanismo psicológico mais ativado e necessário quando um ser humano que se entregou ao outro teve sua confiança dilacerada, sua intimidade aviltada, sua identidade afetada negativamente pelo seu objeto de seu desejo/amor.
Amar a si mesmo, necessariamente, é a condição essencial para qualquer pessoa, sozinha ou acompanhada, que deseja viver de maneira autônoma, livre e consciente. Sem isso, o que predomina é a dependência emocional, relacionamentos disfuncionais, expectativas irreais e projeção nos mais diferentes níveis.
Infelizmente, é possível constatar com certa facilidade que, muitos confundem amor próprio com egoísmo e individualismo. Em nome do amor próprio muitos praticam a vingança, a mesquinhez, a indiferença, criando sobre si um sentimento de superioridade em relação ao outro, alimentando assim um caráter adoecido, justificado para si mesmo em suas maldades, tudo em nome do amor próprio.
O amor verdadeiro, por sua vez, não floresce em corações tomados pelo orgulho, pelo desejo de controlar tudo, pela não disposição de entrega em algum nível. O amor sempre demanda entrega. O grande problema acontece quando essa entrega é cega, desproporcional ao outro, desprovida de autoconhecimento, sem autoestima, motivada meramente pela carência afetiva decorrente de uma relação disfuncional com os pais, especialmente no período da infância.
Amar é confiar, é se entregar, é dirigir e ser dirigido, é ocupar espaços e dar espaços ao outro, é se importar buscando o bem do outro, é humanizar o outro. Ao mesmo tempo, amar é não naturalizar abusos, é não aceitar migalhas afetivas, é não se submeter a nenhum tipo de desumanização. Amar é um risco sempre, quem ama jamais estará blindado do sofrimento, por isso tem que ter coragem pra amar.
Há um sem número de pessoas que, depois de suas histórias relacionais traumáticas, desistiram do amor, que preferiram ir pelo caminho do conforto de um tipo de solidão que se enclausura e/ou que só se aproxima das pessoas para as usarem, sem nenhum tipo de disposição mental ao comprometimento e à entrega de qualquer nível. Vivem sempre “relacionamentos calculados, adaptados, controlados” pelo medo de que a entrega do amor lhes traga novas feridas.
Mas, o amor é exigente demais: ou a gente se entrega (ainda que progressivamente) ou não nos desenvolvemos no verdadeiro amor. Sem entrega até conseguimos construir uma certa sociedade de afeto, uma companhia para eventos e tarefas, posicionamos pessoas estrategicamente em espaços controlados da vida, mas jamais uma relação de amor que torne dois em uma só carne e espírito. Esse talvez seja um dos maiores desafios de nossa geração tão líquida no amor.
Rodrigo Campos
Um Caminhante Aprendiz
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