A nudez e a vergonha

Tendo plena ciência de que o que vou falar pode parecer estranho (e até desprezível) para algumas pessoas, ainda assim faço a seguinte apologia: “precisamos fazer as pazes com a nudez!”

Calma! Não se precipite nas suas conclusões. Não sou favorável a vivermos em uma sociedade em que as pessoas andem peladas por aí, realizando suas tarefas cotidianas sem nenhum tipo de cobertura. Ainda não é seguro e não é o momento disso (ainda que muitos dos índios preservem em sua cultura a exposição da nudez e isso seja algo totalmente estranho à sociedade dita “civilizada”).

A nudez sempre foi parte da condição mais natural e básica do ser humano! Nascemos nus e voltamos pra terra nus (ainda que de palitó e dentro de uma caixa de madeira). No inicio de tudo, o homem e a mulher andavam nus e não sentiam vergonha disso. Vergonha porquê? Somos o que somos. Temos o corpo que temos. Se o outro é um com a gente, qual seria o motivo de qualquer tipo de vergonha.

O medo de Deus e a vergonha do próximo só aconteceu depois que o casal primal decidiu arbitrariamente ceder à tentação que lhe prometia “ser igual a Deus” (no pior sentido dessa expressão). De lá pra cá, nudez se tornou sinal de desonra, de vergonha, de desprovimento, e todas as pessoas que tentaram romper com esse padrão (como os movimentos naturistas, a manifestação do nu nas mais diversas artes) ganharam o estigma da “falta de pudor”.

As pazes que precisamos fazer com a nudez é antes de tudo um movimento de naturalização do corpo tal como ele é resultando assim em autoaceitação. Estamos tão acostumados aos enfeites, às “correções” estéticas, às cirurgias, às maquiagens, aos padrões de beleza, que o corpo real é cada vez mais estigmatizado na sociedade. Olhar-se no espelho é uma tortura para muitos. Há pessoas que nem conseguem desfrutar de uma relação sexual prazerosa com a luz acesa (por medo, vergonha e autoestima danificada).

Fazer as pazes com a nudez significa também realizar um movimento de desempoderamento da opinião alheia. O moralismo é tão forte em nossa sociedade que o menor sinal de exposição do corpo já traz consigo o significado de mau caráter. Nós, como sociedade, preferimos as máscaras, as fugas, a manutenção dos tabus, preferimos esconder para não precisar lidar, preferimos fingir que não existe para ignorar a sua realidade.

E se eu te dissesse que certa vez Deus disse a um profeta que andasse nu por 3 anos, como uma advertência do que sucederia ao Egito e à Etiópia; seu moralismo seria direcionado contra Deus?

E quanto a Jesus ter sido crucificado nu? Alguém já havia lhe contado que os Romanos deixavam os que iam ser crucificados nus? Você já leu que na ocasião em que Jesus lava os pés dos discípulos: “Levantou-se da ceia, TIROU AS VESTES e, tomando uma toalha, cingiu-se.” Jo. 13.4

E o que falar de Pedro que realizava sua tarefa de pescador completamente nu? “Então aquele discípulo, a quem Jesus amava, disse a Pedro: É o Senhor. E, quando Simão Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se ao mar. João 21:7”

Reflita, desmistifique e faça as pazes com seu próprio corpo!

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