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O convite de Deus a crer/confiar não está acompanhado de nenhuma garantia imediata de sucesso ou insucesso; crer não nos blinda dos insucessos da vida, das dores que são próprias do existir. Não crer também não implica em consequência prática e imediata na direção da morte. Se assim fosse, a barganha seria a essência do processo, a decisão na direção de Deus seria uma moeda valiosíssima e conveniente aos espertos segundo este mundo. Além disso, a experiência de crer/confiar estaria condicionada às benesses sortudas da vida, de tal forma que o mergulho nunca seria profundo, nunca tocaria a essência da existência, sempre seria materialista visando o guarda-chuva protetor contra os males externo, sem jamais realizar o bem que vence o mal para o lado de dentro.
Salomão nos estimula a temer a Deus não em razão de nenhuma causalidade imediata na Terra, mas porque, ao final, “bem sucede” aos que o temem. Isto porque o bem nem sempre corresponde ao sucesso, e o mal nem sempre ao insucesso imediato. Mas quem não deseja o “mal”, que viva no Temor do Senhor, pois, ele nos livra do “mal”, mesmo que muitas vezes nos permita passar por ele. O “mal” não é o que se experimenta, é o que fica ou surge em nós, muitas vezes, independentemente de ter ou não havido experiência externa dele.

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Interessante notar que a Teologia Moral de Causa e Efeito é um anestesiador da (má) consciência… Pois como aquele que pratica o mal contra o seu próximo nem sempre vê o juízo de Deus (ou dos homens) de forma imediata, ele acredita com isso que tem a aprovação de Deus…
A Teologia Moral de Causa e Efeito é o esconderijo perfeito para aqueles que , à semelhança de Adão, tentam se esconder de Deus, e para os que vivem a religião do esforço, dos frutos da terra, de Caim, que alegou veementemente não ser tutor ou guardador de seu irmão.
Isso porque, não há profundidade em tal teologia, de forma que a rasura e a superficialidade brotam na alma de seu possuidor; acreditando esse indivíduo que, agindo apenas com a reputação, com o físiologismo e a externalidade, será capaz de agradar a Deus. Ao que parece, o imediatismo injeta-lhe uma carga de esperança, embora não haja mudança de caráter, arrependimento, metanóia, no que concerne a uma vida intensa e a um aprofundamento da consciência no evangelho. Já que, no imediato, não se vislumbra nenhum tipo de punição ou castigo, como se Deus fosse um cão de caça do universo, o portador da teologia dos amigos de Jó, vão vivendo nessa dimensão superficial que lhes preenche o peito, a alma, satisfeitos com o sol que brilha e a chuva que cai sobre seu canteiro , tantas vezes fecundado pela injustiça.
Ora, o eclesiastes afirma, embora sob aparente contradição, que o bom sofre com o mal que sobrevém, e o que se esconde sob a capa da maldade, e de vez em quando faz algo bom, recebem as mesmas recompensas. Embora isso seja dito e percebido no existir humano, o bem maior aguarda o justo, aquele que aprofunda seu cotidiano na ética do evangelho, na grandeza do Infinito Pessoal. Apesar de não ser blindado, protegido contra o mal, o justo vive pela fé, e pela fé alcança o favor e a intimidade divina…
Vai vivendo, e não vão vivendo…
A arte de se viver está em não barganhar com a vida e simplesmente amar e se deixar ser amado como Cristo nos amou primeiro.