Línguas Confundidas

A maldade dos homens que construíram Babel e sua torre foi parcialmente prejudicada pela confusão das línguas. Foi uma forma de desunir pessoas engajadas em um projeto cujo objetivo era a fama, o domínio e a pretensão de alcançar o céu com as próprias mãos.

Até mesmo entre pessoas que falam o mesmo idioma, não é tão fácil compreendê-las no que falam. Especialmente se tratando de um momento na história de tamanha indiferença, falta de empatia e esfriamento do amor, como o que vivemos. Talvez, por isso, as pessoas gritem tanto, exijam tanto, batam na mesa, recorram à posição social que possuem, tentam calar as demais vozes da sociedade, pois quase ninguém se ouve e se entende com a qualidade que isso demanda.

Com o advento das redes sociais, e dos debates através dessas redes, é inequívoca a constatação de que uns escrevem “a”, um grupo entende “b” e reagem ao que entenderam, outro grupo entende “c” e reagem ao que entenderam, e tudo vira uma sopa de informações desconexas, sem nenhum sentido para quem as tenta entender.

Falta a capacidade de interpretação básica de texto, falta a capacidade de levar em consideração o contexto da afirmação do outro, falta a capacidade de lidar com pessoas diferentes, falta a basicalidade da educação e respeito que é condição sine qua non de qualquer que seja a interação social com o mínimo de ordem e progresso.

Por isso, o desafio das línguas confundidas é muito mais na direção de nos tornarmos humanos que aperfeiçoem a melhor linguagem existente no mundo que é a do amor, do que a tentativa de aprender um idioma que seja diferente do nosso. É da linguagem do amor que todos estamos carentes, é da linguagem da paz que nosso mundo mais precisa, a linguagem da maturidade de um diálogo cujo objetivo não seja vencer nem humilhar, mas sim, aprender e ensinar, só que com humildade.

Rodrigo Campos
Um Caminhante Aprendiz

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