Cap. 3 – Institucionalismo – “Minha Fé se Discute”

O ensino de Jesus é bastante claro, objetivo e tem como alvo a experiência de viver cotidianamente amando como Ele amou e se relacionando em comunidade como Ele se relacionou. Você não ouvirá de Jesus nenhuma recomendação do tipo: “Alugue um prédio, crie um nome bonito para a comunidade, coloque uma pessoa para lidera-la, eu falarei minha vontade a ela e ela reproduzirá a visão a todos os demais”. Pelo contrário, você ouvirá Jesus ser assertivo com palavras do tipo: amem, felizes serão se forem humildes, perdoem, não tenha medo, se preparem para o dia da prestação de contas, tenham fé, semeiem a Palavra da vida, façam discípulos, batizem, não duvidem, orem, sirvam os pequeninos, façam suas obras de justiça em secreto, etc.

 

O que quero dizer com isso? É que todo e qualquer tipo de organização comunitária que tentemos construir é coisa nossa, dos humanos e, portanto, isso não é, nem deveria se tornar um fim em si mesmo. Estabelecermos juntos um dia de reunião, pensarmos juntos quais os objetivos vamos percorrer juntos, como vamos organizar determinadas tarefas, tudo isso tem a ver com a gente, não há absolutos nem modelos sagrados a serem reproduzidos!

 

Os primeiros discípulos de Jesus, que tinham o modelo da sinagoga como referência, organizaram as primeiras comunidades cristãs de acordo com os modelos de organizações que tinham de realidade na época. Por isso, diáconos, presbíteros, mestres não eram nomenclaturas novas, nem exclusivas das comunidades cristãs, tampouco não eram uma revelação divina, elas eram nomes que se davam a determinadas funções nas organizações judaicas.

 

Digo isso, porque vejo muitas pessoas acreditando que os modelos organizacionais atuais são como uma espécie de ordem divina dada para que todos os cristãos se reúnam com a mesma liturgia, a mesma divisão de tarefas, as mesmas nomenclaturas e tornam, portanto, a organização em torno da fé rígida, pouco dinâmica e dogmatizada.

Institucionalismo é o nome dado à doença da instituição, ou seja, é quando uma instituição se perde da essência pelo qual ela existe, e no caso da fé cristã, é quando a instituição abandona seu caráter peregrino, flexível, capaz de se renovar, de fazer autocrítica, de se comparar sempre com o ensino de Jesus para ver se seu foco não está desalinhado com seu objetivo inicial.

 

Não se engane! Eu não estou chamando de instituição cristã apenas aquelas que possuem CNPJ, templo, estatuto, reuniões com atas e hierarquias de controle. Chamo de instituição também, grupos informais, em que juntos estabeleceram os parâmetros mínimos de convivência, que de alguma forma chegaram a um acordo sobre como vivenciariam juntos a realidade comunitária.

 

Jesus disse a certo ajuntamento-igreja que Ele estava do lado de fora, e que estava batendo na porta querendo entrar. Pense: o que levou Jesus para fora daquela comunidade? Ela se perdeu no caminho! Começou com boas intenções, mas começou a se vangloriar de terminadas conquistas, se achava rica, autossuficiente, e Jesus repreendeu dizendo que não participava mais daquela dinâmica comunitária, perderam-se por causa da arrogância e se tornaram mornas, causando náuseas em Jesus.

Transforme uma instituição cristã numa máquina religiosa, com fim em si mesma e veja pouco tempo depois ela se tornar um antro de todo tipo de doença psicológica, moralismos, uma fábrica de fariseus.

 

Eu já topei com pessoas presas no “denominacionalismo” (que é quando o nome de sua comunidade lhe confere um sentimento de superioridade em relação aos demais), também me relacionei com “numerólatras” (pessoas que associavam sua importância ministerial aos números que conseguiam apresentar aos seus líderes em relação a batismo, número de membros e quantidade de ofertas levantadas), outros tomados pelo “empresarialismo” (que se relacionam com as pessoas apenas para obter delas lucro, serviço gratuito, força de trabalho para a manutenção da engrenagem religiosa). Todas essas doenças advêm do institucionalismo.

 

O institucionalismo faz as pessoas crerem que o centro de toda a adoração a Deus acontece de forma localmente identificável. Para esses, não há comunidade de Jesus sem a reunião do domingo a noite (ou do sábado dependendo da vertente teológica), não há oferta a Deus senão no gazofilácio ou na cestinha das reuniões organizadas por aquela instituição religiosa, não há experiência com a Palavra de Deus realmente relevante se não for pela pregação do pastor/padre daquela instituição/paróquia, não há atuação ministerial agradável a Deus se não for dentro das funções estabelecidas dentro daquela comunidade específica.

 

Para os institucionalistas eles só estarão sendo “vaso usado nas mãos de Deus” se galgarem os ministérios daquela instituição religiosa e usarem-se da estrutura que tal organização oferece. Do contrário, tudo perde o peso, a relevância e a utilidade.

Digo todas essas coisas com propriedade, pois eu mesmo já fui assim em minha caminhada. Nada do que estou dizendo aqui remete apenas aos outros, senão a mim mesmo que pensei assim por vários anos da minha vida.

 

Vale repetir que, Jesus não veio a nós para criar uma religião, mas sim para ensinar um jeito de viver. Não nos trouxe uma cartilha de doutrinações sem fim, cheias de leis, de “podes e não podes”, como vejo muitas comunidades ensinando, Ele disse que uma vez habitados pelo Espírito de Deus (por meio da fé) nós seríamos conduzidos à toda verdade por esse mesmo Espírito, que é vivo.

Jesus não edificou templos de tijolos, mas sim templos humanos quando disse: farei morada em vocês! Jesus não quis teocratizar o mundo, criando um sistema rígido e como fim em si mesmo, ele disse que o Reino Dele não é desse mundo, e que acima de tudo, o Reino de Deus estava dentro de nós.

 

Mas, daí você me pergunta: porque então insistimos em transformar comunidades de pessoas de fé em realidades tão distintas de tudo isso que acabei de apresentar? E a resposta é: porque somos fascinados pelo controle! Queremos controlar as pessoas, queremos estabelecer os limites de sua atuação, queremos fazê-las servirem aos nossos propósitos, queremos aumentar nossa importância e relevância fazendo delas nosso degrau (conscientemente ou inconscientemente). Nosso surto pelo poder alcança patamares imensuráveis quando damos vazão a nossa ganância, egoísmo e sentimento de superioridade moral.

 

Todas as instituições cristãs se tornaram presas no institucionalismo? Felizmente não! Mas, boa parte do que vemos hoje está influenciado por essa doença, que transforma Jesus num meio para obter finalidades escusas.

 

A pior maldade não é aquela cometida explicitamente como maldade, mas sim aquela é feita em nome de Deus, que se aproveita da vulnerabilidade das pessoas, se apresenta como uma santidade em pessoa, como uma ovelha piedosa e quando menos espera utiliza-se de manipulação, devorando, se aproveitando de seus recursos e vivendo em um estado de reputação ungidamente perversa.

 


Essa versão é apenas uma prévia, ou seja, não coincide com a integralidade do que será publicado no Livro. Justamente por isso, além do grupo de curadores do livro (pessoas que estão me ajudando a, melhor expressar as ideias contidas nele), gostaria de suas opiniões e contribuições também nos comentários desse post, pelo qual agradeço imensamente!

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Rodrigo Campos
Um Caminhante Aprendiz

 

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