Em meu último olhar pelo Portão do mundo vi:
A catraca havia parado de girar.
Seu fluir rotativo estava sem fluxo.
Passaram a nos controlar.
Nele, os antigos livros eram desconsiderados.
Os rostos não eram inspirados.
Em sua imensidão, só o breu e o frio,
Não há diversão, nem chuva e nem nado.
E as estações não mudam mais,
Foram impedidas de girar.
Nele, não se lê e não se ensina,
Ninguém ousa compreender,
Nem mesmo escrever; quem dirá revolucionar!
Apreender para agir não é mais valor humano,
Dialética? Não é mais ofício urbano.
Nele, as músicas foram substituídas,
Só há notas vazias.
Cantar é se suicidar!
Nele, ninguém ousa por o sol em seu lugar,
Retirar o véu que tapou o reluzir.
Ninguém mais se arrisca amar;
Nem acalorar os corpos gélidos,
Que soturnamente aparentam petrificados.
Então, do Portão do mundo ergue-se o grito:
Nele, é preciso fincar uma nova catraca,
Nessa totalidade universal,
Deixar o mundo rodar, voltear.
Fazer girar de novo o planeta Terra,
Pra um, pra todos,
Coloca-lo em eixo proposital.
Nele, tornar o “amômetro” (medidor de amor) sua condicional.
E então, só passar pela nova catraca,
Quem pela medida do amor
Sustentar Amar sem medidas.
Rafael de Campos
elfaracampos@hotmail.com