É impossível fazer um exercício de autoconsciência e não perceber o quanto dentro de mim há fios desencapados, desconexões essenciais, auto-sabotagens, entulhos emocionais e um longo trabalho a ser feito. O cenário não é nada animador, nem tampouco é fácil de admitir a extensão da necessidade de mudanças que precisam acontecer em mim. Especialmente, porque com o passar do tempo vamos aprendendo a tapear realidades, criando um personagem que se encaixa mais com as expectativas dos outros, se adequando àquilo que a sociedade demanda de nós.

Mas, não é da sociedade que quero falar nesse primeiro momento. Quero falar de mim e de minha realidade interior. E posso ser sincero? Quanto mais olho para dentro de mim, mais misericórdia e empatia sinto para com os de fora. Não tem como bancar um moralismo taxativo quando olhamos para os quartos bagunçados da nossa alma e vemos o quão difícil é de se fazer a faxina. Todo ditador, rotulador e juiz do próximo deveria ter essa experiência de se enxergar. Isso humaniza e nos deixa convencidos do quanto somos parecidos ou iguais àqueles que reprovamos publicamente de forma veemente.

Nossos fios desencapados dão choque! Já percebeu quantas circunstâncias você sente de forma alterada por causa da desorganização e desconexão do seu interior com o princípio elementar do amor? Sem a referência do amor pautando minhas emoções e decisões sou levado a uma espécie de fuga eterna daquilo que me causa desconforto, é como se eu fosse levado de um lado a outro de acordo com a circunstância do momento, à mercê dos ventos, dos fluxos, sem nunca ter capacidade ou coragem de dizer “chega, por aqui não”.

Estou falando da dificuldade de me assentar em mim, de estar bem comigo mesmo, de me sentir em paz na relação com meu próprio ser, e também da barreira enorme que há de comunicação com os outros ao meu redor. Como é difícil de entender o outro, de andar junto, dar as mãos, assumir o outro, semear a relação e lutar pelo outro. Bom, se é difícil nessas dimensões, imagina se eu fosse tratar da dificuldade de se relacionar com Deus? Parece que viver é sofrer, viver é estar imerso em um campo de resistências e barreiras, muitos desafios, muitas pessoas que desistiram no caminho, muitos buracos para superar.

É possível reencapar os fios, restabelecer novas conexões baseadas na paz e no amor? Estou certo que sim. É uma jornada com a qual estou comprometido até o fim. Afinal de contas, sou um caminhante que aprende, que chora, que discerne, que erra, que se machuca, que reclama, que agradece e que segue em frente admitindo a verdade do que sente, do que olha, do que percebe e do que experimenta.

Rodrigo Campos
Um Caminhante Aprendiz