Ser evangélico

Ora, ser evangélico, antes – digo, para Paulo—significava ter compromisso de fé e vida com o Evangelho de Jesus. Hoje, ser “evangélico” é pertencer a uma “igreja”, uma instituição religiosa que roubou o direito autoral do termo, falsificou-o e se utiliza dele praticando um terrível “estelionato” simbólico.

Assim, ser evangélico já não tem nada a ver com ser Povo das Boas Novas de Jesus, mas ser membro de uma instituição religiosa que se utiliza das terminologias, enquanto, na maior parte das vezes, nega os conteúdos originais da expressão.

E se continuarmos assim, dentro de pouco tempo, quem for genuinamente evangélico — ou seja, alguém que crê conforme a Boa Nova da Graça em Cristo revelada nos evangelhos — terá que deixar de se auto-definir desse modo sob pena de que as pessoas pensem que o Evangelho tem alguma coisa a ver com os “evangélicos”.

Nos dias de hoje, quase sempre, ser “um evangélico” já não tem nada a ver com ser evangélico conforme o apóstolo Paulo. Hoje, quando um evangélico “evangeliza”, em geral, ele o faz a fim de que a “igreja” cresça como poder histórico visível. Ou seja, “evangelização” significa crescimento numérico sob o pretexto de que se quer salvar as almas do inferno.

Pelo menos é isto que se diz e é isto que as “ovelhas” pensam, pura e ingenuamente. De fato, se se conversar ou se se tiver alguma intimidade com o meio pastoral, ver-se-á que, na maioria das vezes, corre-se não atrás da vida humana, mas dos recursos humanos que, com as multidões, também chegam para dentro do negócio religioso.

Portanto, não é de admirar que o marketing seja hoje um dos mais importantes instrumentos usados pela “igreja”. Apenas uma “igreja” precisa de marketing. Isto porque quem de fato é, não tem que se preocupar em parecer ser.

Explosão numérica, na História da Igreja, quase sempre correspondeu à diluição tanto da Palavra, como do caráter do discipulado, bem como implicou em des-significação da alma humana, afinal, uma multidão pode se beneficiar da Palavra, quando há Palavra, mas não pode experimentar reconstruções de individuação, pois, nas massas, ninguém cresce como indivíduo na comunhão fraterna, na afirmação individual e nos carinhos de quem conhece e se importa, pois, tais realidades, inexistem em todo processo de massificação.

Além disso, milhares de “acomodações” precisam ser feitas em relação ao conteúdo essencial do evangelho quando se utiliza do marketing religioso ou das associações políticas, culturais e econômicas que daí advêm — ou seja, da rendição ao significado-des-significado do capital das massas, que são reduzidas apenas ao testemunho de poder majoritário que elas trazem aos líderes, enquanto as almas dos indivíduos viram apenas números.

Quando Paulo evangelizava, isto significava levar às pessoas a consciência da Graça salvadora de Jesus e da possibilidade da experiência da liberdade-salvadora, tanto na perspectiva individual, como também na comunitária. O resultado, portanto, não é o surgimento de um número a mais para as estatísticas celestiais, mas uma nova criatura, que já começa a se humanizar na Terra, nos vínculos e nas mutações dinâmicas e permanentes que o Espírito da Graça, em Cristo, faz nascer no Novo Homem!

Desse modo, como já disse antes, se Paulo estivesse vivo hoje, provavelmente, ele nos diria que nós ainda não somos convertidos, pois, voltamos atrás, e aderimos aos conteúdos que negam a Cruz de Cristo!

Isto nos coloca, no mínimo, diante de três reflexões. A primeira é que a atual “consciência cristã” é, na maior parte das vezes, anti-cristã, e uma clara e escrachada negação dos conteúdos do Evangelho de Jesus!

A segunda é a impossibilidade hermenêutica 366 de que a Leitura da Escritura feita com “véu na face” possa nos conduzir à revelação da Palavra da Graça!

Portanto, não importa o “método” ou a “escola hermenêutica” em questão. Na Graça, até o pior de todos os “métodos” traz mais revelação da Palavra que o melhor método hermenêutico usado com as viseiras da Lei, da Moral, dos Legalismos, dos Carismatismos narcisistas (que faz do totem carismático a forma referencial de ser para os demais), e seus derivados!

Extraído do livro “Sem Barganhas com Deus”.
Download Gratuito: https://www.caiofabio.net/download/barganhas.pdf

Caio Fábio D’Araújo Filho
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