A prática comunitária #6 – Modo de Ser

As palavras de Jesus no estabelecimento da sua Igreja são de natureza livre, flexível, espontânea e responsável. Jesus disse muitas coisas a respeito da comunidade-igreja: Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, quando dois ou três concordarem sobre a mesma coisa e orarem, oro para que sejam unidos, tratem uns aos outros como eu os tratei, o mundo conhecerá que vocês são meus discípulos se amarem uns aos outros, tudo o que fizerem a um pequenino a mim estão fazendo, quando trouxerem uma oferta e se lembrarem de uma desavença, resolvam isso primeiro, se um irmão pecar contra você trate primeiro pessoalmente, depois, se não resolver leve à comunidade, dentre outras coisas.

Alguns enxergam esses ensinos como regras e comportamentos a serem requeridos da comunidade através de imposição, com o ônus de serem punidos quando desobedecidos.

Para muitos palavras como “dois ou três reunidos em meu nome” significam, “formalizem dias na semana para se reunirem”, “dois ou três concordando e orando” significam “incluam a oração na liturgia da reunião”, “que sejam unidos” significam “criem programas e eventos que coloquem as pessoas no mesmo espaço ao mesmo tempo para se unirem”, “amarem uns aos outros para que o mundo conheça que vocês são meus discípulos” significam “viabilizemos nas reuniões um espaço para demonstrações públicas de amor”, “quando trouxerem uma oferta” significam “incluam um momento de ofertório na reunião” e por fim, “leve o irmão não arrependido à comunidade” significam “estabeleçam uma disciplina com regras e punições quando uma das regras comunitárias forem quebradas”.

Você enxerga essas palavras de Jesus desse modo? A organização e obrigatoriedade do estabelecimento desse ambiente seria mesmo a proposta de Jesus? Será que Jesus estava pensando em grupos com rol de membros, liturgias rígidas, regras morais e reuniões conduzidas por 2 ou 3 pessoas enquanto os outros participam apenas respondendo à proposta desses 2 ou 3 (tal qual observamos em nossos dias)? Se a resposta a essas perguntas é sim, porque Jesus não manifestou esse tipo de comunidade-igreja enquanto esteve entre nós (já que isso seria um modelo)?

Todas essas perguntas são extremamente importantes de serem respondidas, para que nossa visão acerca da igreja seja repensada. Nós nos acostumamos tanto com templos, fachadas, denominações, logotipos, eventos, conferências, retiros, liturgias rígidas, formalismo, multidões em torno de um pastor, ministérios organizados hierarquicamente com escala de valor e importância, que soa quase como uma heresia questionar isso dizendo: Será que a institucionalização e formalização dos encontros é a única forma possível de experimentar a “comunidade-igreja”? E mais, será que o estabelecimento de realidades rígidas e modelos sacros é a “melhor” maneira de viver o que Jesus propôs?

Sou muito simpático a ideia de que quando Jesus falou a respeito de “dois ou três reunidos em seu nome”, ele não estava falando a respeito de grupos fechados ou reuniões fixas que deveríamos pertencer ou frequentar, mas sim de “relações humanas em torno Dele”, que tal como a vida do próprio Jesus mostra, se manifestariam em refeições, conversas ao ar livre, festas e celebrações com os mais diversos motivos, hospitais, presídios, escolas, e porque não, também em reuniões combinadas e agendadas, porém sem se prender a elas.

A formalização e institucionalização da vida comunitária, muitas vezes atendem muito mais a um desejo pessoal de controle e tentativa de afirmar a própria importância no Reino de Deus, do que propriamente dito, ao chamado de Jesus. Digo isso por causa dos discursos pela obrigatoriedade da frequência, pelo medo imposto aos que não assim fazem, pelo estabelecimento de que oferta a Deus está restrita a ofertar àquele grupo, pela centralização do poder e pela tentativa de fazer todos trabalharem para o sustento da engrenagem da máquina religiosa.

A ordem e decência do encontro comunitário foi entendido como excesso de leis e supressão da individualidade, por outro lado, em outros casos, não há nenhum tipo de ordem nem decência, visto que a loucura do culto à espontaneidade tornou o encontro uma “série aleatória de movimentos espirituais vazios de significado em Jesus”.

Há alternativas a esses modos de realizar os encontros de “dois ou três em torno de Jesus”? Será que Jesus nos chamou à adesão irrestrita a um grupo que detém os “poderes da espiritualidade” e que portanto decidem o modo como as coisas se darão entre os discípulos de Jesus? E provoco mais, será que a salvação de Deus sempre esteve restrita e localizada aos grupos formalizados e oficializados, de tal maneira que quem não se submete a esses grupos cometem um pecado mortal e sacrificam assim, a própria fé?

Existem amigos de “circunstâncias e eventos” e há amigos “atemporais”. Destes dois, o primeiro é volátil, limitado, parcial, frágil e temporário, já no segundo o outro se torna um irmão, é uma aliança forte e que perpassa as fases, as eras e ainda que a amizade mude de configurações e passe por adaptações, ela supera os erros e permanece para sempre! Quero mais amizades atemporais, enraizadas e profundas, inclusive a verdadeira comunidade da qual faço parte é feita de pessoas que cultivam essa qualidade de relação. Essas pessoas estão espalhadas por várias cidades, estados e até países. Não nos vemos pessoalmente toda semana, mas certamente há uma semeadura de amor que acontece constantemente pela oração, pelo estímulo, pelos bons conselhos e pelo interesse mútuo. Essa comunidade não tem nome, nem CNPJ, nem hierarquias de poder, mas ela tem um alvo, um pastor, um mediador, um salvador, a saber, Jesus, o Cristo.

De outra forma, seria um pecado que um grande número de pessoas que decidem andar juntas, semanalmente, formalizem o grupo (com base num consenso), para facilitar a obtenção de recursos para realizar ações de justiça e manter-se em dia com a prestação de contas desses recursos perante o estado? Em outras palavras, seria o CNPJ o vilão da igreja? Seria o CNPJ necessariamente sinônimo de controle, poder, hierarquia e manipulação das pessoas? O CNPJ é o que caracteriza um grupo-igreja como empresa e que portanto, flagra sua motivação por lucros?

SOBRE A ESPIRITUALIDADE QUE PRATICO

Minha Espiritualidade começa em Cristo, se sustenta em Cristo e termina em Cristo.

É uma Espiritualidade Inclusiva, portanto, Horizontal, Solidária, Flexível, Desinstalada e Itinerante.

Impossível estabelecer Fronteiras, pois, se Cristo é o Verbo que estava com Deus antes da Criação de tudo, nada pode contê-lo.

Minha Espiritualidade começa em Cristo e permeia absolutamente tudo no universo de modo que, não há nada que existe que não é respingado por Ele a partir da Cruz pra Redenção de tudo e de todos.

Minha Espiritualidade por começar, se sustentar e terminar em Cristo, é simples, muito simples.

Minha Espiritualidade é Cristã e isto significa que é Inclusiva e NÃO restrita.

Minha Espiritualidade que é Cristã dispensa qualquer crendice e isto contribui com minha Saúde Integral.

Minha Espiritualidade acalma e apazigua minha alma.

Minha Espiritualidade consiste em amar, me deixar amar, encorajar ao amor incondicional e traduzir o amor em oração, perdão, partilha, cuidados, comunhão, pratica do bem pra com todos.

Minha Espiritualidade não carece de lugar, hora, dia, intermediações humanas, gestual, vocabulário, títulos, hierarquias, sacrifícios, rituais, utensílios, sistema e esquema.

Minha Espiritualidade consiste em amar.

Minha Espiritualidade é de Graça.

Minha Espiritualidade inclui a Disciplina Espiritual do Encontro e por isto me reúno com todos que comigo se reúnem voluntariamente.

Carlos Bregantim

Vamos ampliar esse assunto a partir dos comentários. Escreva suas considerações abaixo e vamos pensar nisso juntos.

Rodrigo Campos
Um Caminhante Aprendiz
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2 comentários sobre “A prática comunitária #6 – Modo de Ser

  1. Bom dia Rodrigo!
    Concordo plenamente com o que foi escrito.
    Assim como uma Mangueira não faz força para dar manga, assim deve ser vida comunitária em Cristo. Os frutos, a comunhão, o partir do pão, o socorro aos necessitados e tudo mais devem surgir na caminhada de modo natural, nos “galhos” que estão ligados a Videira verdadeira.

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