Experiências que Vivi e Vivo

Desde criança, recebi influência cristã por parte de meus pais. Tradicionalmente Católicos, meus pais não se furtaram de fazerem suas viagens pelo universo protestante em alguns períodos da vida. Me lembro, ainda na infância e adolescência, participando com minha família de Missas, Cultos, Escolas Bíblicas de Férias, além de ter recordações acerca do meu envolvimento com grupos na escola que estudavam a respeito da Bíblia e de Jesus de forma ecumênica. 

Há pouco mais de 15 anos, no entanto, tive uma experiência na espiritualidade que mudou radicalmente o meu olhar em relação à vida, é como se uma força poderosa tivesse me catapultado para um novo mundo, eu não interpretava nem analisava mais a realidade tal qual eu fazia na minha vã e superficial maneira de viver. O deus teorizado, o deus das histórias bíblicas, o deus das elucubrações especulativas, de uma forma incrivelmente visceral se revelou como o “Meu Deus e Pai”, e isso iniciou processos prevalentes e que guiam minha vida até hoje.

Na ânsia de aprender mais sobre a realidade que me visitou e fez morada em mim, mergulhei profundamente nos caminhos religiosos do meu contexto imediato, me envolvi completamente com um grupo de pessoas que eram amorosas, acolhedoras, mas que ao mesmo tempo se submetiam a um tipo de ensino e máquina organizacional que minava alguns aspectos importantíssimos do ensino de Jesus, mas eu não percebia. Como um menino na fé acolhi tudo como sendo verdade, não fiz avaliações próprias, não discerni certas realidades, agreguei discursos religiosamente vazios àquela experiência essencial e pura que tive, e isso foi um desastre.

Não me tornei um maldoso no processo, mas falsifiquei muitas verdades para manter o discurso ideológico daquela denominação. Apesar de ter aprendido muitas coisas boas com algumas pessoas, fui me perdendo de mim mesmo, tentei vestir a armadura de outros que não cabiam em mim, e a cada frustração e angústia uma nova percepção de vida ia surgindo, me moldando, me reconstruindo, me ressignificando, Deus me chamava à voltar à basicalidade da experiência mais terna que já vivi em toda a minha vida.

Nesse ínterim descobri minha vocação pastoral, entendi claramente que cuidar de pessoas é a minha missão de vida, mas tal qual Pedro, passei pelo processo de negá-lo, de chorar amargamente e por fim, de ouvi-lo me restaurando dizendo: Tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas!

Depois de 10 anos nessa determinada denominação uma proposta indecente de um dos líderes me foi feita, não que já não tivesse a ouvido outras vezes, mas dessa vez ela chegou num momento onde a vitalidade da minha fé havia sido revigorada, a chama outrora minimizada agora fervia com toda intensidade no meu coração, e então, fiquei entre minha consciência de fé e minha posição denominacional (e além disso, meu sustento financeiro); não titubeei, apoiado e sustentado pela minha esposa, optei pela ruptura, pelo estabelecimento de um novo jeito de viver. Enfrentei um ano de muita dor e tristeza (pelo abandono dos que achava que eram meus amigos), mas depois do dilúvio existencial veio a calmaria, a bonança e o recomeço!

Fiz a tentativa de me vincular com outra instituição religiosa, onde permaneci por cerca 2 anos. Foi um tempo importante, de transição, fiz alguns amigos ali, aprendi muitas coisas, mas embora de uma forma menos intensa do que na instituição anterior, a necessidade de dinheiro, a busca pela manutenção do status comunitário e o medo de abraçar as realidades de Jesus com confiança e coragem instalaram em mim um desconforto profundo, o que me levou a me desvincular daquele grupo de pessoas.

Há 2 anos tenho experimentado viver sem vínculos institucionais e descobri que é possível crescer na fé sem o uso de objetos sagrados, sem visita a templos sagrados, sem a submissão aos que se auto-intitulam representantes de Deus na terra. Tenho descoberto ao redor do Brasil e do mundo, pessoas que também não suportam mais a tentativa de avaliar a fé a partir de mecanismos relacionados à: frequência, contribuição financeira, envolvimento em cargos ministeriais, participação de retiros, conferências e eventos, etc (o que é próprio do universo religioso institucional). Convido regularmente pessoas para tomar café em padarias, assistir filmes em casa, a orações comunitárias, ao estreitamento das relações a partir de encontros simples e informais, tenho aprendido a enxergar a Igreja de Jesus em cada grupo de dois ou três reunidos em torno Dele, sem os aparatos a qual fomos condicionados a vida inteira a tê-los como essenciais e insubstituíveis, na relação com o Pai.

Seria impossível descrever com detalhes todas as experiências que tenho tido ao longo desses anos na jornada de seguir Jesus e ser transformado pelo Pai segundo a imagem de Jesus. Tenho contemplado verdadeiros milagres acontecendo, pessoas tendo sonhos e visões, a consciência se expandido e ganhando configurações cada vez mais humanas e ternas na direção do próximo, diferentes pessoas de posições doutrinárias distintas se conectando umas as outras pelo vínculo do amor, além de perceber que a exposição às reflexões sobre o ensino puro e simples de Jesus tem tornado mais saudáveis as avaliações e interpretações que fazemos acerca da vida.

Nessa jornada o único dogma é o amor, o único parâmetro é Jesus e a única esperança é aquilo que Deus está fazendo em nós e através de nós. Cristo em nós, esperança da glória!

Rodrigo Campos
Um Caminhante Aprendiz
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