The Dones #9 – Um convite, não uma imposição

Em Outubro do ano passado, fui convidado a participar de um painel que apresentou as estatísticas dos “cansados” da igreja como instituição (do inglês “The Dones”), e pude compartilhar minha experiência de estar com essas pessoas que já não vêem a igreja como uma instituição. O evento “O Futuro da Igreja Vigente” foi projetado para ajudar os pastores a lutar com o fato de que tantas pessoas estão deixando as congregações tradicionais e as estatísticas mostram que há pouca esperança em recuperá-las.

Eles ficam se perguntando “Como manteremos os que estão prestes a sair?” Foi uma tentativa corajosa, mas infelizmente o foco da pergunta e da preocupação deles estava em consertar o programa atual de suas congregações. Eles se concentraram em tornar a adoração mais emocional e interativa, pregando sermões mais curtos e envolvendo mais histórias de outros (gravadas em vídeo para que pudesse ser editado as partes chatas) e um apelo mais eficiente no final.

Houve até a exposição sobre programas inovadores para ajudar a igreja a ir atrás das pessoas ao invés de levá-las a um prédio, etc. Isso até que pareceu promissor. Todos os cinco palestrantes começaram a contar uma história convincente sobre como alguns possuem a paixão da vocação de alcançar pessoas que estavam minadas na fé. Cada um tinha esse anseio diante de Deus há algum tempo e então Deus, segundo eles, lhes deu uma tarefa para fazer aquilo que provou ser maravilhosamente frutífero. Você talvez até pensaria que seriam ideias dignas de atenção e incentivo, se você as ouvisse. No entanto, todos os palestrantes, depois de contar sua história, tentaram vender novos programas que eles criaram aos pastores, apresentando esses programas de uma forma agradável, dizendo que foi Deus quem lhes inspirou naquilo, e criaram um tipo de programa sistematizado capaz de replicar nas comunidades, e até escreveram tudo num livro para alavancar o uso desse novo sistema, omitindo completamente a origem do fenômeno e suas realidades.

Em nenhuma dessas palestras vi alguém que tenha se atrevido a cogitar a ideia de que talvez Deus esteja nesse fenômeno, e caso chegassem a concluir que sim, ninguém tratou sobre como então deveríamos lidar e participar com Ele disso. Todos assumiram que o aumento dos “cansados” era uma notícia ruim e precisava ser corrigido novamente ajustando os programas da congregação. Minha experiência me assegura que aqueles que desistiram de congregações tradicionais não estão procurando por um programa ou sistema melhor para implementar. Eles acharam que todos eram superficiais, menos frutíferos do que era prometido e ao invés de levar a compromissos mais autênticos com Deus e sua igreja, realmente produziram sistemas que necessitavam de manutenção contínua e relacionamentos que nunca saíam da superficialidade.

Nos próximos capítulos dessa série, eu quero aprofundar um pouco mais sobre o porquê de nossos sistemas e programas religiosos já não satisfazem as pessoas que investiram muito tempo da vida neles e quero tratar daquilo que de fato pode produzir mudanças que permitirão a Igreja florescer com a glória que Cristo pretendia. Em vez de criar e procurar novos programas, poderíamos, em vez disso, responder ao choro mais profundo do coração que anseia conhecer a Deus e caminhar nessa jornada espiritual.

Para esse fim, os programas são parte do problema. Eles apenas propõe uma realidade superficial, insuficiente e que falha. Porque disso? Porque os programas são uma imposição! Alguém estabelece a doutrina que devemos acreditar, os rituais que devemos cumprir, ou o currículo que devemos seguir e em seguida buscamos conformar os outros, muitas vezes baseados num sistema de recompensas e punições que manipula as pessoas através da obrigação e da culpa. Não importa o quão  bem intencionados estes sistemas sejam, eles ainda são uma tentativa de forçar uma construção artificial meramente comportamental naquilo que deveria ser uma incrível aventura e profunda transformação! Em vez de atrair pessoas para a vida de Deus, esses sistemas só as alienam porque não produzem os frutos que foram prometidos.

Por isso, Jesus não deu a seus discípulos nenhuma lista de doutrinas, rituais ou livros de discipulado para compartilhar com os outros! Em vez disso, ele falou de um reino melhor onde o amor e o poder de Deus funciona dentro deles. Ele convidou um punhado deles para essa mesma realidade, tanto moldando-os em relação a esse reino quanto mostrando-lhes como poderiam participar disso também. Ele não estava impondo um sistema relacionado a como viver comportamentalmente, mas sim ajudando-os a repensar as coisas pro lado de dentro, ou seja, como se reconectar com a realidade de Deus e segui-lo livremente. Levou mais de 3 anos para ajudá-los a começar a aprender a viver no amor do Pai e a compartilhá-lo com os outros.

Talvez a maior lição aqui seja que a vida de Deus não pode ser imposta. Essa é a matéria da religião. Você pode levar as pessoas a seguir os sistemas e confessar doutrinas verdadeiras, mas sem uma mudança no coração nunca se conectarão com Ele e encontrarão uma trajetória que os levará a aumentar a liberdade e a verdadeira vida. A Encarnação nos ensinou que Deus não traça uma linha na areia e nos diz para atravessá-la, mas mostra onde realmente estamos (perdidos em nossas dúvidas, medos e mentiras) e nos convida a um processo de transformação na medida em que nosso relacionamento com Ele cresce. Enquanto nossa relação com Deus for apenas uma tentativa de fazer o melhor que pudermos, nós só colheremos frustração atrás de frustração, até chegarmos ao ápice do esgotamento.

Isso é o que está acontecendo com muitos que estão desistindo de sistema religiosos hoje, enquanto sua paixão por Deus ainda cresce. Durante anos, eles fizeram tudo o que lhes pediram e ainda não encontraram a vida em Deus que lhes tinham sido prometido. Eles achavam que eram os únicos que estavam lutando com as falhas deste sistema e só agora estão descobrindo que estão acompanhados por milhares. Eles sabem que há “algo mais” por aí e se propuseram a encontrá-lo e não esperam que outro programa o faça.

Isso é o que os “cansados” (Dones) estão buscando e eu aplaudo essa paixão. Tivemos o suficiente de programas pré-embalados, currículo de discipulado formatados em que não se aplicam a realidade de todos. As congregações que sobreviverão nesse momento da história não são aquelas que tentarão reformular seus programas, mas aquelas que encontrarão uma maneira mais generosa de ajudar as pessoas a descobrirem a realidade por trás da nossa fé, ou seja, o próprio Deus! Eles não vão olhar os “Dones” como irmãos e irmãs caídos, mas como colegas de fé que se estabelecem em águas inexploradas para encontrar uma cidade cujo arquiteto e construtor seja Deus.

O discipulado só pode funcionar quando ele é um convite a um coração apaixonado e não uma imposição de uma formatação comportamental cheio de “podes e não podes”. Então, ao invés de investir o nosso tempo com novos programas, escrever mais um currículo ou fazer mais um ritual a ser seguido, seríamos muito melhor servidos se estivermos presentes na vida dos que estão desejosos por Deus e ajudarmos eles a descobrir como Deus já está trabalhando em seus corações. Podemos encorajá-los a reconhecer e a seguir o que Deus já colocou em seus corações. A vida de Deus é uma jornada a descobrir, não um programa a completar.

Venha até mim, convidou Jesus. Esse é o convite. Venha se quiser. A obrigação não funcionará aqui. É um convite à se render a um relacionamento com Ele que irá reordenar tudo o que você pensa e que mudará a forma como você age na direção dos outros na vida. Isso leva tempo para crescer no coração, e para isso você não pode estar seguindo apenas uma lista de boas ideias, é preciso de fato, viver de forma diferente. Aqueles que encontraram Deus sabem que não existe nenhum programa que possa replicar a vida Dele. A vida é muito complexa e nossa humanidade é muito única para ser representava pela rigidez de um programa.

É algo que Ele deseja resolver em cada coração e a melhor maneira de ajudar não é organizando outros seminários ou convenções, mas sim estar perto das pessoas e ajudá-las a ver o que Jesus já iniciou nelas.

As pessoas que respondem livremente a esse convite ajudarão a moldar o futuro da igreja enquanto se faz conhecê-Lo nessa geração.

Wayne Jacobsen
Tradução livre do artigo “The Phenomenon of The Dones” de https://www.lifestream.org/the-phenomenon-of-the-dones/
wayne

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