Um universo em palavras

Palavras são meninas fugidias, andorinhas no crespúsculo de minha existência.
Palavras são anjos que riscam minhas trevas com o giz da beleza. No texto impreciso, iluminam o que eu gostaria dizer.

Palavras ainda invertebradas, escapam à minha sedução poeta.
Contraditoriamente, são minhas servas fieis; elas sabem que serão gastas, apagadas e muitas vezes descartadas.
Imprecisas, palavras desafiam os caixilhos da minha literalidade.

Palavras são musas que amam compor minhas metáforas; às vezes, amigas crueis, nunca disponíveis quando tento desvendar a alma.

Palavras são teimosas. Altivas, resistem aos apertos e só se deixam dominar se cortejadas e amadas. Surdas a galanteios afobados, elas cedem diante de sussurros se me atrevo a escrever com vagar. Amontoadas em frases longas, esgotam-se e morrem no dedilhar apressado.

Palavras expressam um pedacinho de vida logo que percebem que há o pulsar ritmico da poesia; deliciam-se em ajudam a dar forma a sentimentos informes, sensações inexatas e imaginações ousadas.

Palavras são parceiras humildes. Sem dar conta, aceitam jazer esquecidas em livros nunca escritos, em cartas íntimas jamais conhecidas e em poemas esquecidos.

Ando enamorado das palavras. Aprendo a cortejar os substantivos. Abraçar os adjetivos. Quero fecundar meu texto com verbos criativos. Anelo gerar algo que sobreviva aos meus anseios imortais. Incapaz da obra prima, contento-me que palavras precárias celebrem o fascínio de viver.

Soli Deo Gloria

Ricardo Gondim
www.ricardogondim.com.br
ricardogondim

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