Com raríssimas exceções, os grandes pensadores da história da humanidade concordaram que o bicho homem é essencialmente um ser transcendente, que não pode encontrar sua realização neste mundo da imanência e que, portanto, como disse Fyodor Dostoyevsky, carrega no coração “um vazio do tamanho de Deus” e que vive repetindo a oração de Agostinho, chamado Santo: “O Deus, inquieto bate meu coração enquanto não descansar em ti”.
Nós, humanos, somos essencialmente “seres de protestação, de ações de protestos”, como definiu o Frei Leonardo Boff.2 “Desbordamos todos os esquemas, nada nos encaixa. Não há sistema que possa enquadrar o ser humano. E não há sistema que não tenha brechas por onde o ser humano não possa entrar. Estamos sempre nos projetando para fora (ex–istência). Possuímos essa dimensão de abertura, de romper barreiras, de superar interditos, de ir para além de todos os limites. É isso que chamamos de transcendência. Essa é a estrutura de base do ser humano”, conclui.
Trazemos na bagagem a memória do paraíso e a esperança do céu. Por essa razão, caminhamos inquietos, insatisfeitos e precisamos encontrar respostas essenciais que justifiquem o correr dos dias, durante setenta, oitenta anos, neste universo e neste globo chamado Terra. As respostas que procuramos devem ser suficientes para nos fazer capazes de levantar da cama na segunda–feira, a fim de encarar a vida e de nos livrar da sensação de que estamos apenas matando o tempo enquanto a morte não vem.
Lembro–me de que, durante anos, passei em frente ao cemitério do Araçá, em São Paulo, onde alguém deixara pichada sua angústia: “Olhe ao redor. Estranho, né?”. Na certa, aquele grafiteiro não se referia à quietude do lado de dentro do muro, mas sim à turbulência e à agitação do lado de fora. Queria respostas para as perguntas que todo mundo faz: Afinal, por que essa correria toda?, Por que razão estamos vivos ?, O que é que dá sentido a isso tudo?, pois naquele momento o mundo lhe parecia muito estranho. De fato, a sabedoria popular diz que, para o marujo que não sabe para onde vai, todo vento é contra. Friedrich Nietzsche foi mais feliz ao afirmar que “somente quem sabe o porquê da vida é capaz de suportar–lhe o como”.
Isso explica por que Viktor Frankl,3 psicanalista precursor da logoterapia, ou terapia do sentido, disse que “a principal preocupação da pessoa humana não consiste em obter prazer ou evitar a dor, mas antes iem ver sentido para sua vida”. Após anos e anos de aconselhamento psicológico e processos terapêuticos Carl Jung4 chegou à mesma conclusão: “O problema de cerca de um terço de meus pacientes não é diagnosticado clinicamente como neurose, mas resulta da falta de sentido de suas vidas vazias. Isto pode ser definido como a neurose geral de nossa época”. Por essa razão, “a perseguição da felicidade é o objetivo errado. Você não passa a ser uma pessoa feliz perseguindo a felicidade. Você se torna feliz vivendo uma vida com significado”, vaticinou Harold Kushner.5
Ed René Kivitz
Extraído do livro: Vivendo com Propósitos